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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

De repente, toda minha atenção foi sua. Sem eu perceber você me deixou exposta, de coração vulnerável, te precisando e sentindo sua falta toda hora. Chegou sem fazer barulho ou alvoroço e, de repente, eu era sua. Não prometia nada, não cobrava nada, e mesmo assim conseguiu tudo de mim.
E te agradeço por isso.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Lembro sempre dos verões que costumávamos passar no teu carro. Com todas as janelas abertas que sopravam um vento morno, viajando de mar em mar. O sol nas coxas expostas (minhas e tuas), e óculos que não custaram mais de 10 reais. Lembro de sentar de biquíni molhado no banco de trás e você reclamar, porque ia estragar o banco, mas depois sentar comigo.
Lembro muito das sardas que apareciam no seu rosto, quando a gente passava o dia todo no sol. E de beijar suas costas quentes com os lábios frios e ficar com a boca salgada de mar.
Você era o mar.

domingo, 23 de setembro de 2012

Era quinta a noite e você me ligou. Vem cá, se quiser. Vem?
E não sei que força me puxou até teu apartamento escroto. Cheio de decorações na paredes texturizadas e licores importados em todas as mesas. E cheio de mesas. Lustres. Um garçom particular. Um relógio giratório que ninguém nunca olhava.
Não sei se foi minha falta do que fazer numa quinta a noite ou se foi meu tesão absurdo. Sei que 00:40h eu estava deitada do teu lado na tua cama branca e grande e escrota e cheia de travesseiros e lençóis árabes, cansada e com o amor próprio jogado no chão do teu quarto junto com as nossas roupas.
Odeio isso. Odeio teu materialismo e seus cds que falam sobre liberdade e sobre vidas simples na praia. Odeio teu garçom particular. Odeio você me ligando quinta a noite e odeio eu indo. Odeio você mas te amo.

domingo, 16 de setembro de 2012

Protegida pela licença poética, amém.

Hoje me amorteço com pequenas doses de tesão mental. Sento, escancaro coisas dolorosas da minha psiquê... E nada.
Sou um papel em branco, me rendi. Depois de meses fui sugada.
Também nem sou mais dona de mim. Sou, apenas. Vou com o vento, me levam, me molda quem quiser.
Minha mente não se manifesta mais pra mim. A recíproca é verdadeira, confesso.
(branco... mas florido.)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

um flash: sinto sua falta.


Fazia calor a última noite que falei com ele.
Falamos sem preocupação nenhuma e rimos, porque eu não achei que ele fosse realmente parar de existir. Na verdade nunca achei que morte existisse mesmo.
-Você acha que vai doer?
-O que?
-Morrer. Eu acho que dói.
-Doeria se eu tivesse que me preocupar. Só vai doer fisicamente, os médicos disseram que é uma das mais dolorosas.
-É estranho isso né? Parar de existir.
-É. Mas existir também não faz muito sentido pra mim.
-Você tá planejando seu velório?
-Uhum, não quero ninguém falando 'ah, paguei tal coisa pra ele' não.

E eu acho que doeu, mesmo.
Eu queria ter falado o quanto eu admirava ele, o quanto o mundo iria perder, o quanto eu estava com calor aquela noite e como isso é um tanto quanto surreal.
Pra quê tantas leis sociais aprendidas? Pra quê todas as fórmulas matemáticas? Pra quê aprender a dirigir? Morrer antes dos 20 não é um bom plano, sabe.
Ainda existem rastros seus no mundo. E pra quê?

Ele acordava todos os dias as 4:45, sem ter muita certeza do porquê. Era algo sobre um emprego que disseram que uma vez ele teve, e que tinha deixado o hábito. Levantava da cama e comia qualquer coisa que não gostava da mesa posta por uma mulher que ele não lembrava muito bem quem era. Nem fazia questão. A casa era dele, ele sabia, mas se a mulher o atrapalhava, ele nunca percebeu. Que ela fique então. Nas primeiras horas do dia fazia alguma coisa pouco produtiva das quais se esqueceria mais tarde. As vezes aparecia um cachorro [que ele também não sabia de onde veio]. O cachorro ele curtia. As vezes dividiam um baseado. O cachorro também esquecia e não parecia ser muito encanado, igual as poucas pessoas que o cercavam. Ele nunca entendeu porque elas eram assim afinal, e se entendeu, já nem lembra.
Ele só tinha uma coisa
fixa
na memória ridícula e falha.
Beatriz.
Beatriz era uma mulherzinha pequena e sardentinha das mãozinhas quentes e cabelos cacheados. Ela tinha cheiro de baunilha e alguma coisa meio cítrica.
Ele deitava toda noite sentindo esse cheiro, sorria, dava boa noite para a Beatriz e dormia.
Ninguém nunca entendeu muito bem como ele podia lembrar dela.
Mas ele não lembrava. Era mais que isso. Ele respirava baunilha, sentia cada milímetro do corpo sardento grudado no dele, tocava os cachinhos quando quisesse e tinha certeza que as mãozinhas quentes ainda estavam envolta dos seus ombros.
Boa noite, Beatriz.

sábado, 17 de março de 2012

sem dúvidas.

Era amor. A gente sempre escuta tanta gente dizer isso, que quando é mesmo fica até difícil de acreditar.
Pois que não acredite então, já que sua opinião não é importante assim pra narrativa. Mas era amor. Daqueles que você duvida que alguém seja capaz de sentir (além é claro de quem está sentindo).
Ela me puxou pra cama de volta.
-Fica.
Eu queria ficar, precisava ficar, mas não podia.
Fiquei sem poder mesmo.
Tirei pela quarta, talvez quinta vez naquele dia, minha camiseta que ela usava. Abri o sutiã rosa. Abri quem ela era, quem foi a 5 anos atrás, seus silêncios, desabotoei as perguntas dela, a família, a cor preferida, o nome do cachorro, escancarei o que ela pensava e deixei que ela soubesse tudo de mim. Eu sabia que a conhecia tão bem... tão assustador que era!...
-Eu te amo.
-Assustador.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

a cidade dos pássaros pretos.

"a temperatura durante a tarde chegou aos 34°C, a mais alta desde janeiro de 2006" 
Era um céu de neve e as ruas com gosto de uma iminente garoa de verão. Eu estava parada, de camiseta e shorts no mesmo lugar onde, a alguns meses atrás, tomei chuva e te abracei pra passar o frio. O céu derreteu. Ninguém sabe, porque não sei exatamente como explicar... Mas os corredores mudaram desde que eu parei de te ver por ali.
Os corredores que mencionei outras vezes? Quentes, cheios de calor e gente. Vazios.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

.

Sempre sabe o que dizer, quando dizer, e o pior, o que não dizer. É tão espontâneo e despreocupado, e quem te fez até soube onde e como colocar os defeitos. Tudo atrativo.
Tudo,
Tudo.
A voz, o jeito de falar devagar, o sorriso que você nunca dá.
Sabe o jeito de me irritar exatamente na medida, e sabe [com uma sutileza irritante] fazer eu te desculpar.
Talvez eu nunca tenha me dado tão bem com alguém antes, e eu também gosto, olha, eu sei que é démodé, mas gosto do seu cheiro.
Gosto muito, e gosto quando fica em mim sem querer. Acho que gosto de você.
E gosto de falar com você, mas bem perto. Você sabe... Gosto das suas gírias.
Gosto de quando a gente anda por aí igual amigos e você pega minha mão ou poe seu braço nos meus ombros pra deixar claro pra mim
que não é amizade.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os cabelos loiros e curtos se agitaram pelo rosto, dançando com o vento com gosto de morte, que só existe dentro de cemitérios.
Como podia se adaptar a essa efemeridade da vida? Como alguém podia se adaptar? Pensou.
Se nem ela, a menina pequena de sardas e pele bronzeada, a menina selvagem, distante, singular, nem ela conseguia, ela que representava todas as coisas inconstantes do mundo,
quem conseguiria então?
Como lidaria com o sentimento de "sentir saudades'?
Balançou o vestido branco que fez questão de usar naquele dia, justamente por ser um velório. Nunca entendeu a razão das roupas pretas. Passou a mão no rosto vermelho de lágrimas e no cabelo mal cortado que dançava.
Afastou quem pensou em vir falar com ela. E de novo ela se revoltou. Morrer?
Deixou uns pratos no criado-mudo, a luz do banheiro acesa e,
morreu? Essa ação inacabada de morrer, assim, pela metade? Quem sabe o que deixou de falar porque foi interrompido pelo indelicado gesto de morrer?
Enfim morreu. E deixou a moça loira sozinha, em toda sua selvageria indecifrável.
Distante.