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domingo, 29 de maio de 2011

new place in somewhere

a primeira coisa da qual consigo me lembrar é de como é escuro o lugar, esse lugar novo. de como as pessoa exigem de você o que elas acham que conseguem ser, mas não conseguem.
A maioria olha, julga, mas não vê de fato. Acham que sabem e não sabem. Pensam entender.
Nunca entendem.
Lembrar é como olhar pra lente de um caleidoscópio, colorido, confuso, bonito, triste. Porque o tempo passa e eu ando não sentindo mais, ando assim, anestesiada.
É essa a paralisia sensitiva que eu quis por tanto tempo?
As vezes acho que sou como um planeta recém nascido, em carne viva. Mas vá, endurece. Com o tempo esfria.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

...e minhas mãos eram sempre cobertas por mangas de moletons compridos. Lembro que quando você buscava meus dedos nas mangas, os seus eram frios, e mesmo assim, mesmo assim eu queria pra sempre te ver brincando com as mãos nas minhas, entrelaçando dedos, tirando devagar meus anéis, tirando devagar meu moletom.
Um dia você falou que as outras pessoas olhavam pra gente e só comprendiam superficialmente.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tristeza lapidada de Eduardo

Eduardo era daqueles que você olha e acha que ele deixou a alma em algum beco ou loja pequena e poerenta. Era todo composto, andava dançando compassadamente numa marchinha contínua e encantadora. Nunca o vi de cabelo arrumado, tampouco com roupas passadas e sempre com a mesma calça jeans quase rasgando e toda suja. Era o que sabíamos dele. Era só o que todos sabiam dele, aliás.
Mais tarde suporíamos que ele nem sempre teria sido assim, alheio à tudo. Que alguma coisa terrível ou maravilhosa passou e levou a alma dele. Que na verdade aquela marchinha compassada e encantadora era tristeza em sua forma lapidada.
Antes disso porém, eu só olhava. Num desses dias normais ele sentou do meu lado, mais por falta de lugar do que outra coisa, e olhou bem pras minhas mãos nervosas batucando o gesso da parede.
-Você é uma menina bem curiosa, sabe.
Quis perguntar por que, mas por algum motivo eu achei que já deveria saber.
E nunca mais vimos o Eduardo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

hoje me sinto hábil para lidar com problemas.

"Todos os sinaleiros fechados. Dias que começam assim não costumam ser bons. As vezes as coisas começam bem e ficam meses funcionando bem, sabe. As vezes é o contrário. É engraçado, tem anos que reparo nisso... Parece energia, parece que as vezes desce uma núvem de energia bem ruim, e fode todo mundo. Não só individualmente, sabe? Todo mundo. A núvem pode ser boa também, mas quando ela pesa demais a gente tem que se desligar um pouco, sair de perto, sair de baixo da nuvem. Entende? Olha, um sinaleiro aberto."

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre a ilha da mente e suas árvores secretas.

Ficava em uma chácara, dentro de um bosque pequeno de araucárias e na beira de um rio. Era um pedaço quase insignificante de terra escapando pra dentro do rio, e aquele lugar tinha árvores que eu nunca mais vi em nenhum outro lugar do mundo. Chamávamos de ilha dos sete anões, porque éramos sete e principalmente pela graça de um lugar tão pequeno.
Prometemos umas para as outras que nunca revelariamos onde ficava nossa ilha.
Nossa ilha.
Guardamos tão bem, que por fim, esquecemos.
Anos depois lembrei de quando eu detinha toda a minha atenção em atravessar o perigoso bosque mágico de araucárias em seus incríveis 100 metros de área. Lembrei dos perigosos esquilos selvagens, e fingiamos tão bem! Os esquilos talvez nem soubessem que eram perigosos e selvagens.
E como procuramos a nossa ilha depois. Por todo o bosque, por toda a extensão do rio, procuramos nesse dia e no próximo e no próximo. Eu, acho que mais que todas elas, procurei porque precisava desesperadamente de qualquer coisa que me remetesse a quem eu costumava ser. Precisava das árvores secretas com suas folhas amarelas e espinhos.
Nunca encontramos.
Era uma ilha da mente.
Será que deixei lá tudo que eu tinha de especial? Será que eu me perdi na ilha? Nos perdemos todos na ilha, afinal. Esse 'nós' de agora é só uma sombra do que costumava ser real. E o resto de mim ficou entrelaçado nos galhos e folhas amarelas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pessoas são um pouco de sol, um pouco de poeira, mel, cheiro de grama cortada, palavras e outra coisa meio suja. Algumas são dias claros e mornos de verão, outras são também, mas depois da chuva. A maioria é uma cidade bem poluída. A melhor parte são montes e montes de fios enrolados e sem ponta, amor, vômito, algodão doce.
Ele era tudo isso
e música.

O dia em que todo mundo virou poesia

                        O dia mais estranho da minha vida
                   O dia em que as pessoas olharam nos olhos
 Na lanchonete eu virei pra trás e um menino olhou bem nos meus olhos. Ele virou poesia talvez porque fizesse muito tempo que ninguém olhava diretamente nos meus olhos, e mais provável ainda porque fizesse muito tempo que ninguém olhava nos olhos de ninguém. No ônibus uma criancinha jogou uma bola na minha cabeça, e depois olhou nos meus olhos. A mãe dela pediu desculpas.
Olhando
bem
nos
meus
olhos.
Não que a direção do olhar seja importante de fato, mas nesse dia, todos que olharam pra mim puderam ler o que eu estava pensando. Eu olhava pros meu pés e eles eram poesia. Eu olhava pro mundo e ele era angústia, tanta que não caberia em um milhão de linhas. E que grande diferença faria um milhão de linhas de angústia poética? Nenhuma, porque o universo é poesia e é poesia infinita. Mas qual angústia, de mundo? Não caberia a mim sentir, talvez porque não me caiba entender o infinito.
Isso me encabula.