as vezes confundo meu corpo com o mundo
não sei se meus braços são quilométricos
se tenho pernas que andam ou pernas que são todas as partes.
confundo meu tempo, viro o que sempre existiu
viro o que nem existe ainda - esqueço que um dia eu não era nascida.
minha língua fica doce como se nunca tivesse tocado água do mar
e minha boca inteira vira céu
e tropeço nas pausas, nos tempos marcados do relógio, em memórias alheias
vejo tudo ao mesmo tempo
sinto o vento sem que esteja ventando e ouço os ruídos dos animais que estão a um continente inteiro de distância
ouço-os rastejando na grama, correndo, se alimentando, parindo
lembro do sangue (nunca esqueço o sangue, no fundo de tudo o farejo e o quero)
os contornos do meu corpo se diluem, me espalho, existo
entendo
deixo que alguma coisa em mim gargalhe