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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Nota mental:

ser menos imbecil.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor.

Hoje decidi ficar acima disso. Antes eu era alguma coisa com asas presa pelos pés à angustiante obrigação de ser sempre infeliz, sempre esperta e lúcida, sempre politizada. Hoje percebi que quero pessoas espertas e politizadas e nem tão lúcidas o tempo todo por perto, e se não tem ninguém, quero pelo menos soltar meus pés e ser melhor que o que me prendia. Sozinha mesmo.
Nem sempre quero me explicar porque nem sempre quero ser entendida.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Finalmente, chegou.

E chegou apesar de todos os meus muitos protestos silenciosos, apesar da minha falta de interesse, apesar dos meus pedidos discretos de 'SE AFASTE, CARALHO.'
E chegando vi que era bem o que eu queria mesmo.
Eu odiava principalmente não entender a sensação de ficar nervosa e me acalmar no exato momento em que você chegava perto. Porque era isso que você fazia comigo, afinal.
Nunca foi repulsa. Tinha vontade de correr porque não entendia bem os seus efeitos, mesmo assim fiquei.
E ainda estou, por que? Nem sei mais.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

pulsações da cidade- não coloque intensidade onde não há nada.

Andou sem pressa sobre as calçadas molhadas daquela cidade imunda. Talvez esperasse que alguém o impedisse, que alguém lesse sua mente e o impedisse. Talvez.
Buscou tremendo o que precisava da farmácia e voltou no mesmo ritmo, sentindo a água entrar pelo seu calçado furado de couro e molhar seus pés sem meias. Tirou os calçados. Parou e tragou o cheiro de concreto molhado, como odiava aquilo. Como odiava toda aquela cidade e aquelas pessoas.
Duas velhas passaram fofocando porque era o que se fazia naquele lugar, e uma falou que as vezes orava por ele. Ele pensou em olhar pra trás mas percebeu que aquele comentário não merecia um rosto. "Ele é um perdido, sinto pena."
Primeiro ele ficou com raiva mas começou aos poucos a achar graça, no jeito em que as pessoas se achavam melhores, no jeito que te olham, no grau de estupidez. E sentiu pena.
Chegou sem perceber na frente de casa. E como odiava aquela casa, como odiava o cheiro de mofo, o barulho nas telhas quando chovia, o sofá cheirando a cigarro.
Tomou tudo o que havia pego na farmácia. De uma vez.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Não temos base.

E tentamos com a graça de quem gosta do não-conseguir. Não temos base porque até nas conversas mais amigáveis nos rasgamos como se rasga alguém que se odeia, porque teus sorrisos vão cortando do pescoço até a coxa e porque o silêncio não se sustenta nunca. Silêncio que não se sustenta é vontade de descobrir e vontade de descobrir quer dizer que estamos inquietos um com o outro.
Talvez seja ódio mesmo. Ódio e amor são a mesma merda, em sentido opostos. Só sei que nunca estou indiferente em relação a você e que quero sangrar nas nossas conversas longas todo dia, conversas auto-destrutivas, cheias de sorrisos seus, cheias.
Tipo essas coisas que se criam e se destroem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

there's something about you that i can not understand

Não era por ser metida ou triste que ela nunca olhava nos olhos. Não que fosse feliz, mas não era por isso que nunca deixava as mãos serem tocadas.
Tinha sono leve, porque nem dormindo se permitia ser indefesa.
Também parecia meio incapaz de ter conversas longas demais e amizades longas demais e relacionamentos longos demais. Era porque tinha um jeito naturalmente fugitivo assim. Largava frases incompletas no ar, e tinha a mania peculiar de te deixar sozinho.
Deixar sozinho, isso era uma coisa que ela fazia muito.
Não falava muito dela e não se deixava olhar por muito tempo.
Um dia sumiu. Morreu, não sei. Sumiu, tinha um jeito naturalmente fugitivo. Sumiu de uma vida sem muitas coisas além de baques abruptos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

porque as vezes me dá uma falta de sentido que vocês nem sabem.

bolsa de valores tanque de gasolina novidades em tecnologia aquecimente global
pasta de dentes.
O MUNDO É MUITO ENGRAÇADO!
e por favor, por favor, chega de se levar a sério viu. chega de caçar meus erros gramaticais. chegar de complicar porque o mundo é simples e tua cabeça nem tanto. porque olha, o mundo é uma bosta mesmo, mas tudo bem porque ele pode ser poesia, assim de vez em quando.
tira esse terninho. eu sei que você entende muito sobre economia e tal, eu sei que você pagou muito caro nesse celular MAS PARA
para só um poquinho e olha pra cima. se tiver estrelas melhor, mas se estiver chovendo
melhor.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sabíamos.

Era diferente porque não tinha o peso das formalidades entre a gente. Nem nhé-nhé-nhés sentimentais.
Ele sabia que eu gostava dele, porque eu gostava. E sabia mesmo sem eu me esforçar pra mostrar; me esforçava pra não esconder, apenas. E ele sabia.
Também eram raras frases carinhosas. De qualquer jeito, sempre preferi sorrisos tímidos que dizem textos inteiros.
Eu sabia que ele gostava de mim também, sabia porque uma vez ele ficou doente e eu fui lá, com ele. Se ele melhorou? Não.
Mas eu fiquei doente também.
E foram os dias mais bonitos daquele ano. Ficarmos trancados em casa, de cama, doentes e juntos. "Sabe que geralmente eu odeio ficar doente. Dessa vez até que está valendo a pena, sabe, guria?"
Aí eu soube.
Sabíamos, e era suficiente.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

i even know if i'm breathing.

Odeio ela. Odeio o motivo que a faz ser tão tranquila sempre. Queria que ela tivesse menos respostas pras coisas, mas ela sempre tem.
Odeio a sensação insuportavelmente boa que me dá quando ela fala alguma coisa bem inteligente com voz baixa e depois dá um sorrisinho com o canto dos lábios.
E o cheiro de menta, não quero.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

meio que anseavam pelos encontros despropositais de corpos, toques de mão, esbarradas nos corredores vazios.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"Nada é doce mais, pequena."

Não acho que alguma pessoa no mundo pudesse estar feliz aquele dia. Devia ser alguma coisa no céu, parecia neve suja com pegadas de lama. A cada esquina, um sinaleiro fechado. "É sua teoria, né? Sua teoria sobre sinais fechados. Dias que começam assim não costumam ser bons." Pensei.
Meu pai estava sentado do meu lado sem fazer nada além de dirigir e ser triste. "Acho que ele não sabe o quanto é lindo e livre, e isso é quase como ser um pássaro." Ser um pássaro é uma merda porque você tem o mundo e não sabe. Não, é pior. Você tem o céu e não sabe. Porque pássaros passam a vida inteira não estando cientes de que são pássaros.
Mais do que tristes, nós estávamos vulneráveis... Mas eu não lamentava. Era uma tristeza linda. Ele disse "Nada é doce mais, pequena." Mas você não sabe, pai. As vezes a vida ainda pode ser doce. É verdade que poucas coisas tem um desfecho impressionante, mas a tristeza em você é muito doce e quando você grita comigo como se nunca tivesse sentido nenhum orgulho, eu me obrigo a sentir doçura em qualquer coisa próxima.
Sei lá, ser um pássaro é uma merda.

domingo, 24 de julho de 2011

Então diz como eu deveria agir

Esquece o que eu disse sobre 'o que, sinceramente, eu quero de você.' Achei que sabia mas não sei, achei que poderia ser surpreendida, mas não serei. O que eu, sinceramente, quero agora é sentar contigo no chão, bem perto pra te pedir desculpas e ouvir você não dizer nada. E queria muito mais você agora, só porque eu não posso ter, só porque você não quer, só porque eu não me gosto o suficiente.
Queria olhar seu rosto ridículo de quem não tem remorso e inventar na minha cabeça que você está se importando e que você consegue enxergar MAIS do que eu acho que você consegue. Você nunca tinha me fascinado antes.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Veículos lentos na pista da direita

Já estavam cansados demais pra serem irônicos. Não aquela hora, não aquele dia, não fisicamente. Eles eram duas pessoas cansadas.
Quando eram jovens, juntos tinham um tipo de brilho. Uma combinação inusitada, um menino desempregado, uma cidade grande pequena demais, uma primavera, uma menina morena desajeitada. Agora eram dois adultos afetados.
Eles foram afetados! Perigosíssimo. A tragédia da normalidade, altamente contagiosa pela convivência. Uma vez ouvi falar de um homem que foi contagiado, e ainda tentamos nos recuperar.
Um a um, nós tentamos nos recuperar.
Nesses dois o brilho foi substituído por fundas olheiras. Quando a infecção estava no começo, ainda existia o humor ácido um contra o outro. Agora foram consumidos.
Havia amor? No fundo, no fundo,
não.
Era irreversível.

sábado, 25 de junho de 2011

pulsações da cidade - não coloque intensidade onde não há nada.

nasceu na terra
tudo que eu sou e tudo
ver você dormir
cresceu no sol, mas colheu na lua. quando a tua alma transbordou
você viu esse pássaro? porque ele está em todos os lugares
e tudo que fui. é mais que um nome ou um rosto. você não pode comprar a felicidade. roube-a
escrito de batom no vidro do espelho, corações de verdade não são quebrados. quer dizer que tudo que sou e que fui eu aprendi? eu sinto a sua falta todo santo dia.
não é triste? perguntou.
sem o verde morrem todas as cores.
a gente acostuma. Mon dessin ne représentait pas un chapeau, este é meu relatório sobre a importância.
opções?
and that's what kills you.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Não te acho arte.

Não acho. Não acho que você é luz nem que eu sentiria sua falta se você se metesse um dia na minha vida e decidisse ir embora. Não acho que te preciso e nem que preciso do seu jeito de achar defeito em tudo e acho que preciso cada vez menos da sua respiração.
Acho que você é tão controlado por fora mas passa muito tempo brigando com você mesmo por dentro.
Acho que alguém tinha que gritar com você, te fazer explodir, balançar essa paz tosca do caralho que você sempre tem contigo.
Eu NÃO sinto a sua falta.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

existia, porém.

Não sem pudor, ela existia. Existia sem jeito, com certa dificuldade, existir ardia. Existia, porém.
Às vezes ela tinha um sopro assim, quase que uma inspiração, mas logo passava, e ela voltava a ser nada.
Um dia ela acordou e as lágrimas da noite anterior já estavam secas. Pegou a arma do marido falecido e, por um segundo, parou de existir e viveu. E vivendo ela era inteira torpor. Vivendo, puxou o gatilho.
Nem mais vida e nem mais existência.
Alguns sentiram falta dela por algumas semanas, depois voltaram a só - sem gosto, sem vida, quase sem âmago - voltaram a só existir.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Era engraçado como ele tinha jeito com as palavras e mesmo assim as usava bem pouco. Acho que tudo ficava mais bonito quando saia da boca dele. Aliás todas as coisas ficavam mais bonitas quando se relacionavam com ele, de algum modo.
Não sei o que tinha esse guri. Era uma beleza além da aparência, além das covinhas.
Quando eu acordava ele com o cheiro de café da cozinha, e ele aparecia lá de cueca e cabelo bagunçado e eu dizia que ele acordava feio, não sei muito bem o que ele pensava. Sempre me dizia que era eu quem estava feia de blusão cinza e meias. Riamos.
Lembro das vezes que ele ficava vermelho quando era elogiado, ou talvez eu não soubesse elogiar.
A maior parte do tempo ficávamos dentro do apartamento branco e mofado, nunca sóbrios o suficiente pra eu lembrar o que fazíamos lá.
Foi assim que eu fui embora, também. Sem estar sóbria o suficiente pra lembrar porquê.

terça-feira, 7 de junho de 2011

                               eu sei que existem milhões de combinações de palavras pra descrever o que aconteceu aquela tarde, mas não me sinto capaz de encontrar nenhuma.

Era de tarde, quase escuro. Chovia desde manhã; e eu estava lá, parada, na porta de um teatro, esperando nem lembro o quê, no meio de um monte de vento e chuva e gente correndo. Fria, molhada, brava, de lábios sem cor que tremiam.
Algumas pessoas passaram, sem muita expressão, igual elas sempre são mesmo. Muitos nem olhavam pra mim. Eu pensava que dentro dos seus guarda chuvas e bem mais pra dentro das muitas roupas existiam milhões de histórias, medos, coisas pra fazer, viagens, cores, homens e mulheres inteiros que, pelo menos a grande maioria, eu nunca ia conhecer. Posso ter cruzado com um ou outro mais tarde, num dia de sol quem sabe. De qualquer maneira eu seria irreconhecível pra eles sem o cabelo no rosto e os lábios tremendo.
Depois de vários minutos exposta à uma potencial hipotermia e esperando o tal não-sei-o-quê, uma moça de cachinhos vermelhos molhados e com um nariz de palhaço saiu correndo do teatro, olhou pra mim meio de relance, e
sorriu.
Não que nunca tivessem sorrido pra mim.
Mas a maioria esmagadora das pessoas não ri pra uma menina molhada e mal humorada assim, sem esperar nada. A moça não riu pra uma máquina fotográfica, não riu pra dar oi pra algum conhecido, não riu pra ser simpática. Ela riu simples e puramente porque ela teve vontade de rir, porque ela tinha um nariz de palhaço e talvez por achar graça uma pessoinha lá, parada, nervosa, meio xingando sozinha a demora do não-sei-o-quê. Foi o primeiro e talvez o único sorriso sincero que já me deram. Parei de xingar. Sorri de volta. Quis um nariz de palhaço.
Quem eu estava esperando por longos minutos molhados chegou preparado pra uma crise histérica universal. Entrei devagar no carro e sentei sem bater a porta.
-Desculpa, desculpa, desculpa! Não queria demorar assim, juro, você tá ai toda branca de frio ó. Quer ir lá em casa pra se secar? Quer que eu ligue o ar quente? Quer me responder, caralho?
-Tô com frio.
-Eu sei.
-Sorriram pra mim.

domingo, 29 de maio de 2011

new place in somewhere

a primeira coisa da qual consigo me lembrar é de como é escuro o lugar, esse lugar novo. de como as pessoa exigem de você o que elas acham que conseguem ser, mas não conseguem.
A maioria olha, julga, mas não vê de fato. Acham que sabem e não sabem. Pensam entender.
Nunca entendem.
Lembrar é como olhar pra lente de um caleidoscópio, colorido, confuso, bonito, triste. Porque o tempo passa e eu ando não sentindo mais, ando assim, anestesiada.
É essa a paralisia sensitiva que eu quis por tanto tempo?
As vezes acho que sou como um planeta recém nascido, em carne viva. Mas vá, endurece. Com o tempo esfria.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

...e minhas mãos eram sempre cobertas por mangas de moletons compridos. Lembro que quando você buscava meus dedos nas mangas, os seus eram frios, e mesmo assim, mesmo assim eu queria pra sempre te ver brincando com as mãos nas minhas, entrelaçando dedos, tirando devagar meus anéis, tirando devagar meu moletom.
Um dia você falou que as outras pessoas olhavam pra gente e só comprendiam superficialmente.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tristeza lapidada de Eduardo

Eduardo era daqueles que você olha e acha que ele deixou a alma em algum beco ou loja pequena e poerenta. Era todo composto, andava dançando compassadamente numa marchinha contínua e encantadora. Nunca o vi de cabelo arrumado, tampouco com roupas passadas e sempre com a mesma calça jeans quase rasgando e toda suja. Era o que sabíamos dele. Era só o que todos sabiam dele, aliás.
Mais tarde suporíamos que ele nem sempre teria sido assim, alheio à tudo. Que alguma coisa terrível ou maravilhosa passou e levou a alma dele. Que na verdade aquela marchinha compassada e encantadora era tristeza em sua forma lapidada.
Antes disso porém, eu só olhava. Num desses dias normais ele sentou do meu lado, mais por falta de lugar do que outra coisa, e olhou bem pras minhas mãos nervosas batucando o gesso da parede.
-Você é uma menina bem curiosa, sabe.
Quis perguntar por que, mas por algum motivo eu achei que já deveria saber.
E nunca mais vimos o Eduardo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

hoje me sinto hábil para lidar com problemas.

"Todos os sinaleiros fechados. Dias que começam assim não costumam ser bons. As vezes as coisas começam bem e ficam meses funcionando bem, sabe. As vezes é o contrário. É engraçado, tem anos que reparo nisso... Parece energia, parece que as vezes desce uma núvem de energia bem ruim, e fode todo mundo. Não só individualmente, sabe? Todo mundo. A núvem pode ser boa também, mas quando ela pesa demais a gente tem que se desligar um pouco, sair de perto, sair de baixo da nuvem. Entende? Olha, um sinaleiro aberto."

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre a ilha da mente e suas árvores secretas.

Ficava em uma chácara, dentro de um bosque pequeno de araucárias e na beira de um rio. Era um pedaço quase insignificante de terra escapando pra dentro do rio, e aquele lugar tinha árvores que eu nunca mais vi em nenhum outro lugar do mundo. Chamávamos de ilha dos sete anões, porque éramos sete e principalmente pela graça de um lugar tão pequeno.
Prometemos umas para as outras que nunca revelariamos onde ficava nossa ilha.
Nossa ilha.
Guardamos tão bem, que por fim, esquecemos.
Anos depois lembrei de quando eu detinha toda a minha atenção em atravessar o perigoso bosque mágico de araucárias em seus incríveis 100 metros de área. Lembrei dos perigosos esquilos selvagens, e fingiamos tão bem! Os esquilos talvez nem soubessem que eram perigosos e selvagens.
E como procuramos a nossa ilha depois. Por todo o bosque, por toda a extensão do rio, procuramos nesse dia e no próximo e no próximo. Eu, acho que mais que todas elas, procurei porque precisava desesperadamente de qualquer coisa que me remetesse a quem eu costumava ser. Precisava das árvores secretas com suas folhas amarelas e espinhos.
Nunca encontramos.
Era uma ilha da mente.
Será que deixei lá tudo que eu tinha de especial? Será que eu me perdi na ilha? Nos perdemos todos na ilha, afinal. Esse 'nós' de agora é só uma sombra do que costumava ser real. E o resto de mim ficou entrelaçado nos galhos e folhas amarelas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pessoas são um pouco de sol, um pouco de poeira, mel, cheiro de grama cortada, palavras e outra coisa meio suja. Algumas são dias claros e mornos de verão, outras são também, mas depois da chuva. A maioria é uma cidade bem poluída. A melhor parte são montes e montes de fios enrolados e sem ponta, amor, vômito, algodão doce.
Ele era tudo isso
e música.

O dia em que todo mundo virou poesia

                        O dia mais estranho da minha vida
                   O dia em que as pessoas olharam nos olhos
 Na lanchonete eu virei pra trás e um menino olhou bem nos meus olhos. Ele virou poesia talvez porque fizesse muito tempo que ninguém olhava diretamente nos meus olhos, e mais provável ainda porque fizesse muito tempo que ninguém olhava nos olhos de ninguém. No ônibus uma criancinha jogou uma bola na minha cabeça, e depois olhou nos meus olhos. A mãe dela pediu desculpas.
Olhando
bem
nos
meus
olhos.
Não que a direção do olhar seja importante de fato, mas nesse dia, todos que olharam pra mim puderam ler o que eu estava pensando. Eu olhava pros meu pés e eles eram poesia. Eu olhava pro mundo e ele era angústia, tanta que não caberia em um milhão de linhas. E que grande diferença faria um milhão de linhas de angústia poética? Nenhuma, porque o universo é poesia e é poesia infinita. Mas qual angústia, de mundo? Não caberia a mim sentir, talvez porque não me caiba entender o infinito.
Isso me encabula.

domingo, 24 de abril de 2011

i'm not like u but i still can pretend.

Quem passa perto de mim na rua e me vê maquiada nem desconfia. Quem fala comigo e escuta minha risada aposto que nem desconfia, os vendedores nas lojas não desconfiam, porque sei deixar meu "obrigada" automático bem como o de todo mundo. Alguns animais me olham e temo por segundos, porque animais bem que podiam me descobrir se estivessem procurando por mim. Mas não descobrem.
As vezes tenho medo que meu modo de andar ou de piscar me entregue, e alguém grite e aponte "É uma impostora! Ela é uma impostora!" mas não acho que isso vá acontecer. Manipulei meu cheiro e o som dos meus passos, bem como o de todo mundo. Nem desconfiam.
Existe uma crosta fina de normalidade em determinados humanos e as vezes, o que tem no interior vaza por pequenas rachaduras. Tomamos cuidado, mas um impostor reconhece o outro. Reconhece pela voz, pelos fios de cabelo.
Mas deixa ser então, que nos compreendemos. Nos compreendemos e sabemos fingir.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tem uma coisa pendente

Os Souza eram uma família perfeita. Ricos, mas decidiram viver de um jeito simples. O pai Roberto trabalhava de blazer esporte, chegava em casa às 4, ficava com os filhos, fazia academia aos domingos. A dona Ana era linda. Usava pouca maquiagem, passeava com a empregada, fazia o melhor bolo de cenoura do mundo e ocupava o cargo mais alto da empresa. As duas meninas já tinham sido chamadas pra trabalharem como modelos algumas vezes, Júlia passava a adolescência querendo ser bióloga e tocava teclado, Amanda cursava fisioterapia e era voluntária em um asilo. Felipe era o bebê mais inteligente e com os maiores olhos castanhos que eu já vi. Um dia Amanda acordou e se jogou da janela do décimo segundo andar.
A despedida foi deixada em batom vermelho no vidro, "Não acho que o mundo seja um bom lugar pra se viver, tampouco que eu seja digna de viver nele." e uma marca de beijo carimbada por lábios finos.
Amanda era infeliz? Tanto quanto eu e você e todo o resto das pessoas. Muito.
Seu erro foi ter cometido a infelicidade de perceber isso.
Felipe cresceu sem jamais ter ouvido falar na irmã, e em poucos anos, a família Souza voltou para a mais total felicidade bege de família perfeita. Com o tempo todos morreram de velhice.
Não, com o tempo todos apodreceram por serem felizes demais. Só Amanda teve a dignidade de brotar, calma, da janela do décimo segundo andar. E sorrindo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Para a minha bailarina de porcelana

São 16:00h. Estou no banheiro chorando
de saudade
de alguém que ainda vai estar perto de mim por no mínimo mais 15 anos.
Ela está lá fora e eu escuto a risadinha fina que ela acabou de aprender, e o barulhinho leve do sapatinho vermelho batendo e dançando no assoalho.
Ela está fazendo três anos e eu fico me perguntando se todo aniversário dela eu vou chorar desse jeito, como se ela já estivesse saindo de casa.
É uma gentinha pequena de porcelana correndo e rindo vestida de bailarina com sapatos vermelhos, que quase parece pessoa de verdade, e que um dia vai crescer e sair de casa.
Não cresça, bebê. Seja bailarina pra sempre.
Feliz aniversário.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Palavras flutuantes

Não acho que ele seja alguém ruim. É isso mesmo que ele quer que pensem e é isso mesmo que pensam, mas eu não acho, não. Porque as palavras dele flutuam. Se ele te mandar tomar no cu, a frase vai rolar devagar e flutuar, colorida por entre os lábios e pousar tão suavemente nos seus pés que até enjoa. E você vai ter vontade de sorrir. Alguém te manda tomar no cu e você vai sorrir.
Ele consegue fazer essas coisas, mesmo.
Ele não é ruim porque coisas pesadas não flutuam, e porque as palavras dele nunca pousam respingando coisas ruins. Algumas nem pousam. Ficam no ar. São essas partículas minúsculas que a gente vê na luz. Outras caem graciosamente desajeitadas.
Isso deve ser bondade.

sábado, 12 de março de 2011

Me quis tão livre das outras coisas que me tornei completamente prisioneira de mim mesma. Tento me livrar de mim.
E não dá, não dá, não dá, nunca dá.
O vento me quer livre, a fumaça me quer livre, até as calçadas me querem livre. As calçadas que estão só a mercê da gente. Mas é tanta pele, tanta alma, tanto sangue, tanta gente e pouca juliana. Alma existe? Não. Alma sangra.
Só sei que estou muito ocupada existindo, e existir me dá um enjôo do caralho. Hoje estou ocupada, existindo. Existir é não ser livre de mim.
E agora me deixo em paz.

quarta-feira, 2 de março de 2011

      Eu, sonolenta, em pé na beira de uma rocha alta. Parece que alguns gritavam "Não cai! Não cai!" mas eu dormia e caia. Dentro da minha cabeça de novo. Caia na sala de uma casa que não era minha e o homem saia de um quadro que não era meu. E tudo ficava escuro, então. Eu ouvia as vozes no andar de cima e sentia medo. "parem de jogar vida em mim!!" eu queria implorar, mas eu estava tão dentro da minha mente!...
Quando eu conseguia voltar, finalmente, pensava em qualquer coisa que me deixasse em pé ou que me fizesse cair pro lado oposto do abismo. Mas qualquer coisa real que eu pudesse pensar no momento era infinitamente mais abstrato que o próprio sonho. Então eu, mais um vez, despencava. E denovo. E denovo. Fiz pratos tilintarem e tudo que era habitual e seguro desapareceu. 3 minutos, e eu voltava. 3 minutos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Derramavam mel nos meus pés.

Não eram meus, de fato, mas era tão doce que eu senti e tive vontade de vomitar. Enquanto pra alguns a paisagem passava só de relance, correndo e escapando escurecido pelo vidro fumê de um carro, pra mim foi como acordar cedo num sítio e comer torradas olhando um campo de margaridas; doce e enjoativo. Eu senti as margaridas nos meus pés. Eu senti o sol molhando de mel a superfície branca. E eu pensei, caralho, preciso voltar pra sujeira, pra cidade, pra poluição tão habitual.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Adotando tristezas.

Passei tanto tempo aceitando a tristeza. Passei tanto tempo que nunca nem precisou ser A Tristeza. Podia ser qualquer uma por aí. E fiz dela uma amiga íntima, deixei-a se acomodar gentilmente em meus ombros e quis ela por perto. Éramos perto, tão perto que mesmo quando eu estava feliz, sentia os ossos pesados dos seus joelhos no meu peito. Mesmo feliz eu dava um jeito de adotar (alguns diriam roubar) as tristezas dos outros e torná-las totalmente minhas. Mas quando um dia eu resolvi tirar suas coxas dos meus ombros e seus joelhos pesados do meu peito, quando eu resolvi não alimentar mais nenhuma tristeza e soltar minhas mãos das dela, eu, que sempre quis tanto viver, e eu que me senti ofendida e suja quando um monte de vida de verdade foi jogado na minha cara,
descobri que
ela é quem gosta de mim.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

'Ela aceita minha confissão'

3.260.292 habitantes sujos igual fumaça de cigarro pra mim. Podres e automáticos e velhos. Resultados de uma cidade velha, resultados de uma experiência urbana que saiu do controle e que saiu dos perímetros.
Exceto você. Você era puro e era uma criança. Você era um dia de verão depois de uma tempestade.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Rindo das 'últimas vezes'

E me parece engraçado agora porque eu simplesmente arrumava qualquer motivo pra uma 'última vez'.
Queria, na época, te dar a mão e te levar pra um tour mental e que você conseguisse entender o quanto de você permeava a minha mente, e também quis que você me levasse pra conhecer a sua. Agora eu quero na verdade colocar uns gifs brilhantes que dançam com o seu nome ao longo desse texto pra você entender que é pra você, e quero que você ria comigo e também quero colocar a música pra tocar. Particularmente, eu gostava que você me fizesse esquecer que nós vivemos no pior universo, no pior mundo e, pra ajudar, rodeados das piores pessoas com capacidades mentais limitadíssimas, e gostava quando você falava que meu cachorro é feio. Enfim, uma amizade vulgar. Minhas preferidas.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Colecionadora de sonhos mortos.

Você pensou em quantos sonhos mortos tinham no chão da minha sala e provavelmente propôs teorias. Bom, eu também não tenho certeza de como eles foram parar ali e nem sei se são todos meus. Acho que eu sou uma colecionadora de sonhos mortos. Já pensei em cobri-los de açucar e abrir as cortinas mas desisti, porque eles não seriam mais tão cadavericamente bonitos.
Também já acreditei que eu não fosse a única colecionadora. Que todos os sonhos de todas as pessoas deviam ser meio mortos porque as pessoas são de fato meio mortas, e o resto esse mundinho de consumo e televisão se encarrega de matar com seus próprios comerciais. Mas depois vi de perto pessoas vivas com ilusões bonitas e também abandonei essa teoria.
Os sonhos... são animais pequenininhos com asas finas e chamuscantes.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Não sou suficiente pra você porque não faço parte dessas subdivisões escrotas e esquisitas da sociedade, porque sou muito normalzinha, porque não fico bêbada às sextas, porque não gosto muito de interações pessoais. Talvez porque eu não goste de pegar sol, talvez porque eu não seja cheia de problemas familiares, ou talvez porque eu seja. E eu quero mesmo que você me julgue. Quero que você pense em mim e se arrependa e que todas as suas músicas tristes lembrem eu. Quero que as vezes você sinta meu cheiro e fique enjoado, quem sabe te encontrar por aí em algum lugar bem normal que você odeie e que eu odeie e que nós possamos juntar nossos ódios, e que isso te faça me odiar também. Quero que você vá na livraria e veja livros dos escritores mais clichês e lembre que são os meus preferidos. Quero que você nunca mais consiga comprar aquele determinado doce porque quero que você lembre que é meu preferido. Quero que você tome no cu por ter furado a manga de todas as suas blusas pra colocar o dedo porque eu faço isso, e agora você vai lembrar de mim. Quero que você tome no cu.

Ela enxergava melhor à meia-luz

Ela enxergava melhor quando era quase-escuro, e embora os cientistas e algumas outras pessoas dissessem que não, era verdade. Já estava amanhecendo e ela não dormiu porque o tempo passava muito rápido. Já era outra década e já eram 5 da manhã. A luz estava perfeita. Entre as frestas da persiana entrava uma pseudo claridade tosca, que deixava os rabiscos da parede assustadores, e era assim que eles eram mesmo, e era assim que o mundo era, e isso só podia ser visto no escuro. No sol todas as coisas vestem uma fantasia bonita e é daí que surgiu essa lenda do mundo ser bonito. A verdadeira beleza e a verdadeira feiura só pode ser vista no escuro porque o mundo fica despido e frágil e você fica despida e frágil, e é assim que você é, e é assim que o mundo é.
A verdade fica esperando nos lencóis porque à noite as pessoas podem ser tristes e o mundo pode ser triste e os pássaros podem ser tristes, porque é desse jeito que os pássaros são. E você pode ter sonhos rídiculos que foram feitos pra te fazer fugir da realidade noturna, e aí você vive em sonhos bonitos de dia e de noite, no sol e no sonho, e a noite se defende te mandando insônia e te mandando um monte de parentes chatos.
E é assim que o mundo é.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os cantos das janelas do kitnet minúsculo da amanda eram cheios de teias de aranha e sujeira porque ela nunca abria a janela toda. Não gostava muito do dia e estava particularmente odiando aquelas manhãs de verão, calor, chuva, calor, corpos bronzeados, barrigas de tanquinho, calor, suor. Não saía de casa de dia. Não precisava, só conseguia clientes a noite. E quando tinha que sair, se enchia de protetor e umas roupas quentes pra cobrir cada centímetro de pele, por isso tinha uma cor cinza meio esquisita de doença, e por isso também, perdia muita gente pras concorrentes bronzeadas com marcas de biquinis.
Amanda tinha uma filha, mas abandonou quando nasceu e foi a coisa mais difícil que ela já fez. Sempre usava batom vermelho. A coisa mais cara que ela tinha era uma bota de couro sintético que ela não usava pra trabalhar. Ela gostava de azul. Tinha aids. Gostava de margaridas mas achava que não era digna de ter margaridas em casa, que não era nem justo torturar flores com aquele cheiro ácido e aquele apartamento ridículo e triste. Sábado passado tinha ido num parque e ficado horas sentada na frente de um canteiro de margaridas no sol, estava queimada e descascando e teve que baixar o preço da foda naquela semana. Um dia desses ouviu uma gargalhada e pensou que era a filha dela. Nunca soube se era mesmo. As vezes ela tinha pesadelos com bebês a acordava com a mão na barriga, e chorava, chorava, chorava.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nós colocamos lembraças naquele corredor

e em algum lugar entre aqueles pisos e entre meus neurônios afetados, elas ainda existem.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os epílogos antes do resto.

Morrer é certo. Mediocridade é certa. Desamores, cansaço, escravidão, domingos.