Não sem pudor, ela existia. Existia sem jeito, com certa dificuldade, existir ardia. Existia, porém.
Às vezes ela tinha um sopro assim, quase que uma inspiração, mas logo passava, e ela voltava a ser nada.
Um dia ela acordou e as lágrimas da noite anterior já estavam secas. Pegou a arma do marido falecido e, por um segundo, parou de existir e viveu. E vivendo ela era inteira torpor. Vivendo, puxou o gatilho.
Nem mais vida e nem mais existência.
Alguns sentiram falta dela por algumas semanas, depois voltaram a só - sem gosto, sem vida, quase sem âmago - voltaram a só existir.