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terça-feira, 12 de abril de 2011

Tem uma coisa pendente

Os Souza eram uma família perfeita. Ricos, mas decidiram viver de um jeito simples. O pai Roberto trabalhava de blazer esporte, chegava em casa às 4, ficava com os filhos, fazia academia aos domingos. A dona Ana era linda. Usava pouca maquiagem, passeava com a empregada, fazia o melhor bolo de cenoura do mundo e ocupava o cargo mais alto da empresa. As duas meninas já tinham sido chamadas pra trabalharem como modelos algumas vezes, Júlia passava a adolescência querendo ser bióloga e tocava teclado, Amanda cursava fisioterapia e era voluntária em um asilo. Felipe era o bebê mais inteligente e com os maiores olhos castanhos que eu já vi. Um dia Amanda acordou e se jogou da janela do décimo segundo andar.
A despedida foi deixada em batom vermelho no vidro, "Não acho que o mundo seja um bom lugar pra se viver, tampouco que eu seja digna de viver nele." e uma marca de beijo carimbada por lábios finos.
Amanda era infeliz? Tanto quanto eu e você e todo o resto das pessoas. Muito.
Seu erro foi ter cometido a infelicidade de perceber isso.
Felipe cresceu sem jamais ter ouvido falar na irmã, e em poucos anos, a família Souza voltou para a mais total felicidade bege de família perfeita. Com o tempo todos morreram de velhice.
Não, com o tempo todos apodreceram por serem felizes demais. Só Amanda teve a dignidade de brotar, calma, da janela do décimo segundo andar. E sorrindo.