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sábado, 31 de dezembro de 2022

Nasci sentindo o gosto de todas as bocas que compartilham o ar do mundo.
Gritei com 7 bilhões de pulmões, gritei nascendo porque era a única reação possível.
Antes que eu tivesse um corpo, já existia no espaço o meu nome.
Carrego esse espaço ao meu redor. Não existe nada que não seja eu.
Os lugares e pessoas por onde passo vão sendo inseridos para que eu me constitua.
Cabe uma pessoa na minha boca
e várias no meu corpo, além de mim mesma.
Tenho pedaços que são pra sempre indigestos, dependurados, anulando meu corpo de carne.
Nasce meio a força uma outra criatura que se entende inteira, mesmo que abjeta.
De diferentes matérias como o lixo e os bichos do oceano.
Diferentes texturas,
diferentes pontos de fusão.
Um desmonte pelas mãos qualificadas do mundo,
precisas como mãos de um cirurgião sem dedos.