Web Analytics

domingo, 30 de janeiro de 2011

Colecionadora de sonhos mortos.

Você pensou em quantos sonhos mortos tinham no chão da minha sala e provavelmente propôs teorias. Bom, eu também não tenho certeza de como eles foram parar ali e nem sei se são todos meus. Acho que eu sou uma colecionadora de sonhos mortos. Já pensei em cobri-los de açucar e abrir as cortinas mas desisti, porque eles não seriam mais tão cadavericamente bonitos.
Também já acreditei que eu não fosse a única colecionadora. Que todos os sonhos de todas as pessoas deviam ser meio mortos porque as pessoas são de fato meio mortas, e o resto esse mundinho de consumo e televisão se encarrega de matar com seus próprios comerciais. Mas depois vi de perto pessoas vivas com ilusões bonitas e também abandonei essa teoria.
Os sonhos... são animais pequenininhos com asas finas e chamuscantes.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Não sou suficiente pra você porque não faço parte dessas subdivisões escrotas e esquisitas da sociedade, porque sou muito normalzinha, porque não fico bêbada às sextas, porque não gosto muito de interações pessoais. Talvez porque eu não goste de pegar sol, talvez porque eu não seja cheia de problemas familiares, ou talvez porque eu seja. E eu quero mesmo que você me julgue. Quero que você pense em mim e se arrependa e que todas as suas músicas tristes lembrem eu. Quero que as vezes você sinta meu cheiro e fique enjoado, quem sabe te encontrar por aí em algum lugar bem normal que você odeie e que eu odeie e que nós possamos juntar nossos ódios, e que isso te faça me odiar também. Quero que você vá na livraria e veja livros dos escritores mais clichês e lembre que são os meus preferidos. Quero que você nunca mais consiga comprar aquele determinado doce porque quero que você lembre que é meu preferido. Quero que você tome no cu por ter furado a manga de todas as suas blusas pra colocar o dedo porque eu faço isso, e agora você vai lembrar de mim. Quero que você tome no cu.

Ela enxergava melhor à meia-luz

Ela enxergava melhor quando era quase-escuro, e embora os cientistas e algumas outras pessoas dissessem que não, era verdade. Já estava amanhecendo e ela não dormiu porque o tempo passava muito rápido. Já era outra década e já eram 5 da manhã. A luz estava perfeita. Entre as frestas da persiana entrava uma pseudo claridade tosca, que deixava os rabiscos da parede assustadores, e era assim que eles eram mesmo, e era assim que o mundo era, e isso só podia ser visto no escuro. No sol todas as coisas vestem uma fantasia bonita e é daí que surgiu essa lenda do mundo ser bonito. A verdadeira beleza e a verdadeira feiura só pode ser vista no escuro porque o mundo fica despido e frágil e você fica despida e frágil, e é assim que você é, e é assim que o mundo é.
A verdade fica esperando nos lencóis porque à noite as pessoas podem ser tristes e o mundo pode ser triste e os pássaros podem ser tristes, porque é desse jeito que os pássaros são. E você pode ter sonhos rídiculos que foram feitos pra te fazer fugir da realidade noturna, e aí você vive em sonhos bonitos de dia e de noite, no sol e no sonho, e a noite se defende te mandando insônia e te mandando um monte de parentes chatos.
E é assim que o mundo é.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os cantos das janelas do kitnet minúsculo da amanda eram cheios de teias de aranha e sujeira porque ela nunca abria a janela toda. Não gostava muito do dia e estava particularmente odiando aquelas manhãs de verão, calor, chuva, calor, corpos bronzeados, barrigas de tanquinho, calor, suor. Não saía de casa de dia. Não precisava, só conseguia clientes a noite. E quando tinha que sair, se enchia de protetor e umas roupas quentes pra cobrir cada centímetro de pele, por isso tinha uma cor cinza meio esquisita de doença, e por isso também, perdia muita gente pras concorrentes bronzeadas com marcas de biquinis.
Amanda tinha uma filha, mas abandonou quando nasceu e foi a coisa mais difícil que ela já fez. Sempre usava batom vermelho. A coisa mais cara que ela tinha era uma bota de couro sintético que ela não usava pra trabalhar. Ela gostava de azul. Tinha aids. Gostava de margaridas mas achava que não era digna de ter margaridas em casa, que não era nem justo torturar flores com aquele cheiro ácido e aquele apartamento ridículo e triste. Sábado passado tinha ido num parque e ficado horas sentada na frente de um canteiro de margaridas no sol, estava queimada e descascando e teve que baixar o preço da foda naquela semana. Um dia desses ouviu uma gargalhada e pensou que era a filha dela. Nunca soube se era mesmo. As vezes ela tinha pesadelos com bebês a acordava com a mão na barriga, e chorava, chorava, chorava.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nós colocamos lembraças naquele corredor

e em algum lugar entre aqueles pisos e entre meus neurônios afetados, elas ainda existem.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os epílogos antes do resto.

Morrer é certo. Mediocridade é certa. Desamores, cansaço, escravidão, domingos.