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segunda-feira, 23 de abril de 2012


Ele acordava todos os dias as 4:45, sem ter muita certeza do porquê. Era algo sobre um emprego que disseram que uma vez ele teve, e que tinha deixado o hábito. Levantava da cama e comia qualquer coisa que não gostava da mesa posta por uma mulher que ele não lembrava muito bem quem era. Nem fazia questão. A casa era dele, ele sabia, mas se a mulher o atrapalhava, ele nunca percebeu. Que ela fique então. Nas primeiras horas do dia fazia alguma coisa pouco produtiva das quais se esqueceria mais tarde. As vezes aparecia um cachorro [que ele também não sabia de onde veio]. O cachorro ele curtia. As vezes dividiam um baseado. O cachorro também esquecia e não parecia ser muito encanado, igual as poucas pessoas que o cercavam. Ele nunca entendeu porque elas eram assim afinal, e se entendeu, já nem lembra.
Ele só tinha uma coisa
fixa
na memória ridícula e falha.
Beatriz.
Beatriz era uma mulherzinha pequena e sardentinha das mãozinhas quentes e cabelos cacheados. Ela tinha cheiro de baunilha e alguma coisa meio cítrica.
Ele deitava toda noite sentindo esse cheiro, sorria, dava boa noite para a Beatriz e dormia.
Ninguém nunca entendeu muito bem como ele podia lembrar dela.
Mas ele não lembrava. Era mais que isso. Ele respirava baunilha, sentia cada milímetro do corpo sardento grudado no dele, tocava os cachinhos quando quisesse e tinha certeza que as mãozinhas quentes ainda estavam envolta dos seus ombros.
Boa noite, Beatriz.

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