Web Analytics

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Paula me esperava na saída dos últimos dias de aula antes do verão. Chegava de blusão largo ou um vestidinho solto, de seios livres dentro da roupa respingada de sorvete, e eu a queria sempre. Quando me via parece que sorria o corpo inteiro, as pernas finas, a pele quase preta, o corte de cabelo. Abraçava-a e ela tinha cheiro de limão ou outra coisa cítrica.
Íamos por aí, tomávamos vinho na praça, e no fim da tarde chegávamos meio bêbadas na sua casa. Antes de acender a luz, antes até de trancar completamente a porta, eu a puxava pela nuca e pressionava contra a parede, distribuindo beijos cegos pelo seu rosto.
Em poucos passos casa adentro já estávamos nuas. Paula me segurava como se a vida pudesse escapar entre as frestas dos dedos se não segurasse forte. E não tinha pudor ou medo.
Sentia, nesses processos, o cheiro do verão que estava chegando.
As vezes, quando feixes da luz dos postes conseguiam entrar na casa, via minha saliva espalhada pelo seu corpo e sorria. E ela sorria. E seu sorriso me acertava como um flash nos olhos.
Deitávamos no tapete, ainda processando tudo que acabava de acontecer. Seu gosto na minha boca. Seu suor. Vinho.
No fim, eu via o clarão do isqueiro iluminar tudo por um segundo, e então a fumaça subindo. Tentava prender a cena entre meus cílios; seus seios subindo e descendo pelo arfar, a pele molhada, os pelos.
Mas o verão chegou rápido e derreteu as imagens. Porque éramos tão insuportavelmente humanas.