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domingo, 1 de julho de 2018

em mim habita uma coisa antiga que quer sair
e ela não se importaria se tivesse que rasgar minha garganta ou peito. eu preferiria que ela fizesse; saísse com violência, sem usar os caminhos usuais do corpo
mas ela é paciente essa coisa
ela assiste minhas tentativas de deixá-la sair pelos olhos e reconhece meu esforço
mesmo eu sabendo que ela é grande demais e nunca seria tão fácil.
em dias de lua cheia é pior
é como se eu fosse sempre um bicho grávido, quase parindo
e a coisa se revira em mim como os bebês se reviram na hora de nascer,
mas ela nunca nasce
(na cidade as vezes penso que vi a lua
mas quando olho direito é um poste ou uma placa do burguer king).
essa coisa antiga é muito sincera e crua. ela deve ser feita de terra e carne e pulsar de um jeito brusco, com uns olhos imensos que olham sempre (esses olhos eu sinto no fundo de tudo).
se eu ficar bem quieta, ouço dentro aqui
ela não fala
tem um som estridente de silêncio e gargalhada
eu queria poder tirar minha pele como quem tira uma fantasia
e deixar a coisa existir.

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